Nos últimos anos, temos testemunhado uma crescente preocupação com a saúde mental no ambiente de trabalho. Este é um tema que merece atenção especial, sobretudo diante dos dados alarmantes sobre afastamentos por transtornos mentais, que, segundo o Ministério da Previdência Social, aumentaram 38% em 2023. Como psiquiatra, vejo a importância de abordar este tópico não apenas sob a perspectiva da saúde individual, mas também como um reflexo de políticas organizacionais e culturas corporativas.
A saúde mental no ambiente de trabalho é um assunto complexo e multifacetado. Uma pesquisa recente revelou que quase metade dos trabalhadores brasileiros apresenta risco de problemas de saúde mental, com altos índices de insônia, sedentarismo e sobrepeso. Esses números são um indicativo de que as organizações precisam reavaliar suas estratégias de promoção de bem-estar.
É fundamental entender que a identificação de riscos de saúde mental é apenas o primeiro passo. A obtenção de um diagnóstico preciso e um tratamento adequado exigem a intervenção de profissionais de saúde qualificados. Infelizmente, percebemos que há uma lacuna significativa no diagnóstico e tratamento adequado da força de trabalho. Ainda que as rodas de conversa e palestras nas empresas sejam iniciativas valiosas, elas não substituem a necessidade de acompanhamento profissional.
Outro ponto crítico é a preparação das lideranças corporativas para lidar com questões de saúde mental. Uma grande parcela de gestores e colegas de trabalho ainda não está pronta para abordar esse tema sem preconceitos. Isso revela uma lacuna na formação e sensibilização dos líderes, que deveriam estar aptos a oferecer suporte adequado aos colaboradores.
A pandemia de COVID-19, apesar de todos os desafios, trouxe uma redução do estigma associado aos transtornos mentais, incentivando mais pessoas a buscarem ajuda. No entanto, muitas empresas ainda não oferecem benefícios de saúde mental, especialmente aquelas com menor número de colaboradores. A saúde mental é essencial para a execução de habilidades pessoais e profissionais, e investir no bem-estar dos colaboradores é uma estratégia inteligente para promover um ambiente de trabalho produtivo e sustentável.
Acho fundamental ressaltar a importância de uma abordagem mais estruturada e sustentável para lidar com os desafios da saúde mental no trabalho. As organizações precisam avançar na gestão dos impactos da saúde mental, implementando estratégias como flexibilização, melhoria do clima organizacional, transparência e aumento da diversidade. Somente assim poderemos enfrentar esse desafio de maneira eficaz, garantindo o bem-estar dos trabalhadores e a produtividade das empresas.
Fonte: https://valor.globo.com/carreira/noticia/2024/01/22/afastamentos-por-transtornos-de-saude-mental-sobem-38.ghtml