A ansiedade é um componente natural e presente em todo ser humano. De modo geral, pode ser definida como uma sensação difusa, vaga e sempre desagradável de apreensão. Funciona desde os primórdios da humanidade como um sinal de alerta, indicando que possa existir um perigo próximo inespecífico. Esse perigo pode ser externo – ameaças do mundo – ou interno – sensações, pensamentos e preocupações intrínsecas a cada um. Ao sentir o incômodo proporcionado pela ansiedade, é possível recrutar energia para enfrentar as potenciais ameaças.
Em níveis normais, a ansiedade capacita a pessoa a tomar medidas eficazes para lidar com a ameaça, evitando o perigo ou diminuindo as suas consequências. Quando os sintomas passam a acontecer com maior intensidade e frequência do que o esperado, ou são desencadeados por situações que normalmente não provocariam ansiedade, diz-se que a ansiedade se tornou patológica. Esses níveis de ansiedade “paralisam” o indivíduo, trazendo muitas dificuldades na vida social, familiar e profissional/acadêmica.
A 10ª edição da Classificação Internacional de Doenças (CID) e a 5ª edição do Manual de Diagnóstico e Estatística da Associação Psiquiátrica Americana (DSM) diferenciam alguns transtornos ansiosos como quadros de ansiedade social, transtorno de pânico, fobias específicas entre outros. Dentre os quadros mais frequentes e impactantes está o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG).
O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)
O TAG é um quadro definido por ansiedade intensa e constante não relacionada a um evento estressante específico, na maioria dos dias, por um período de pelo menos 6 meses. É um transtorno comum, que pode atingir até 8% das pessoas. Compromete áreas importantes da vida dos indivíduos acometidos, com grande procura de serviços de saúde e perda de qualidade de vida. Como todos os quadros em saúde mental, há o envolvimento de fatores biológicos, genéticos, psicossociais e ambientais.
Várias alterações biológicas são encontradas no TAG, tanto no metabolismo de áreas cerebrais, como em níveis hormonais e na sensibilidade alterada a substâncias cerebrais como a serotonina e a noradrenalina. Do ponto de vista genético, até 25% dos parentes de primeiro grau de pessoas com TAG tem chance de apresentar esse diagnóstico, existindo uma tendência a ser mais comum no sexo feminino.
Sintomas
Os sintomas ansiosos no indivíduo com TAG são persistentes e afetam comportamentos do paciente em várias situações cotidianas. Em geral, o indivíduo considera difícil controlar suas preocupações, mesmo em momentos de descanso. A ansiedade e preocupação são acompanhadas de sintomas variáveis ao longo do dia, como tensão muscular (tremores, dores musculares recorrentes), cansaço constante, dores de cabeça, sintomas adrenérgicos como palpitações, sudorese, tontura, ondas de frio ou calor, sensação de falta de ar, urgência miccional (ou seja, desejo de urinar várias vezes ao dia), entre outros.
Há também apreciação negativa com o resultado de tarefas a serem realizadas, com a sensação constante de que “algo pode dar errado”. Vive-se em estado de constante apreensão, na tentativa de sempre “antecipar os perigos”.
Essa dificuldade para relaxar, “desligar-se dos problemas”, pode gerar também sintomas de insônia, muita irritabilidade (“nervos a flor da pele”), dificuldades de concentração – ocasionando “esquecimentos” de coisas cotidianas – e sintomas depressivos como tristeza, perda de prazer, sentimentos de culpa e falta de perspectiva com o futuro.
Diagnóstico
O TAG pode surgir em qualquer idade, em crianças, adolescentes e adultos. Em geral, é comum surgirem os sintomas após os 20 anos, no período de transição da adolescência para a vida adulta.
O diagnóstico é clínico, baseado em entrevista com médico especialista, na qual são coletadas informações sobre a família, história de vida, momento de vida atual, uso de substâncias e quadros clínicos associados. Na maioria das vezes, são solicitados exames de sangue e de imagem para avaliar se existem outras condições clínicas, como problemas de tireoide, alterações hormonais, cardíacas, neurológicas).
Como o TAG muitas vezes se apresenta com sintomas físicos, não é raro os indivíduos procurarem prontos-socorros ou atendimentos em outras especialidades médicas, como clínicos gerais e cardiologistas, o que pode muitas vezes atrasar o diagnóstico.
Tratamento
O TAG tem tratamento e controle. A ideia central do tratamento é melhorar completamente os sintomas físicos e auxiliar a pessoa conviver com sua ansiedade e usá-la a seu favor! O tratamento é realizado tanto com medicamentos quanto com psicoterapia, sendo que o tratamento combinado, em geral, apresenta resultados mais efetivos. Em relação o tratamento medicamentoso, a classe de medicações mais usadas são os antidepressivos.
O tratamento medicamentoso inicia com doses baixas, que vão sendo aumentadas gradualmente, sempre com o objetivo do maior controle possível dos sintomas. As medicações antidepressivas não causam dependência e os novos fármacos possuem muito poucos efeitos colaterais, os quais tendem a desaparecer com o decorrer do tratamento. É importante lembrar que o tratamento medicamentoso tem o objetivo de ser por tempo determinado, em geral, a depender do caso por um período de 9 a 12 meses após controle dos sintomas.
A psicoterapia também tem um papel importante no tratamento, sendo eficaz sozinha ou combinada. Quando a psicoterapia é combinada com tratamento medicamentoso, em geral observa-se diminuição importante do risco de recaída.